1908-2008
Ontem fui ao mosteiro de São Vicente de Fora.
Vesti um fato preto, uma camisa branca e uma gravata preta - afinal, e acima de tudo, dirigia-me à Igreja para, mais que celebrar, lamentar, o totalitarismo jacobino republicano que assassinara um Rei e um Príncipe.
Lamentar o triste estado a que Portugal chegou.
Lamentar o sangue real.
Cheguei cedo.
Ainda havia dois ou três lugares por ocupar nos bancos corridos, já cheios. Optei por ficar de pé, junto da porta. E então comecei a vê-los chegar, os burgueses do país, os traidores que vendem Portugal por trinta dinheiros ao liberalismo e, agora, ao neo-liberalismo. Não percebem que a monarquia de 1820, que começou com a importação dos ideiais ingleses (a monarquia constitucional), foi o início do processo de desnacionalização. São, pois, aquelas criaturas que passavam por mim com sorrisos idiotas e gravatas amarelas às pintas azuis (que bonito, hum, para marcar presença nas cerimónias de evocação do Regicídio!?) e, olhando para o meu pin monárquico ao peito, me batiam no ombro para me cumprimentar.
A minha polidez não me permite ser rude, mas quando a conversa se aprofundava, eu [finalmente] conseguia fazê-los entender a diferença entre a bandeira toda branca (a minha) e a bandeira azul e branca (a deles). Mas a maioria nunca entendeu, nem faz por isso.
"Quero um Rei, isso basta!" - ainda dizem para quem quer ouvir... A ser assim, mais vale deixar tudo como está, e esperar que venha a ideologia que amassou Portugal e o fez crescer.
Por fim, chegou sar Duque de Bragança. Passando na ala central, dirigiu-se ao seu lugar para a cerimónia. (Não teço comentários, pois já sabem o que penso em relação à pretensão ao trono.)
E lá teve lugar a missa. A homília do Cardeal Patriarca foi um "porco lançado a pérola" (não, não me enganei a escrever). Enfim, uma desilusão.
E é este o país que temos: a monarquia foi adulterada por importação, o Rei foi morto a tiro como um coelho, a monarquia foi deposta e substituída por outra forma de governo importada, esta foi renovada por um regime de conteúdo aceitável mas formalmente inadaptado e, por fim, eis que temos o estrangeirismo completo - república democrática e socialista-que-serve-o-capitalismo. Esquecendo o comunismo, digam-me: como é que isto poderia ser PIOR???
Menestrel
8 Comments:
Meu caro, infelizmente acho que já estivemos mais longe do comunismo efectivo - o culminar do processo revolucionário.
E já agora, perdoe-me a minha ignorância, mas qual é a sua posição em relação à pretensão ao trono português?
Um abraço.
Caríssimo, ainda bem que concorda comigo- tem o espírito alerta para perigo.
Quanto à sua questão, responderei de boa vontade, mas não com as minhas palavras:
"O problema está em que a vontade obsessiva de alguns monárquicos em verem a Monarquia restaurada a qualquer preço, e a falta generalizada de conhecimento dos princípios que condicionam e legitimam essa forma institucional, faz com que esses monárquicos esqueçam que a Monarquia e a Realeza emanaram originalmente da própria comunidade, e foram adoptadas como instrumentos para a realização do bem comum. Logo, a sua readopção teria que passar pelo crivo da vontade da própria comunidade, sendo ilegítimas quaisquer tentativas para condicionar a expressão dessa vontade, fazendo apelo a uns quaisquer direitos de herança e de sucessão a um futuro Trono de Portugal.
Assim sendo, não poderá ser pacificamente aceite a afirmação de que o Duque de Bragança é o legítimo herdeiro e sucessor do Trono de Portugal, e que se a Monarquia viesse a ser restaurada, seria ele o único com legitimidade para subir a esse Trono.
Para analisar o valor eventual destas posições teremos primeiro de rever o que a Tradição e as Leis Fundamentais do Reino nos dizem quanto à sucessão real. E não consideraremos o que estava disposto na Carta Constitucional de 1826 porque as Constituições - ao contrário das leis consuetudinárias e das Leis Fundamentais historicamente enraízadas nas comunidades -, só têm valor enquanto não forem substituidas, além de que essa particular Constituição foi outorgada por um Príncipe estrangeiro [imperador do Brasil!], e foi imposta em Portugal pela força das armas estrangeiras, o que lhe retira qualquer legitimidade. Não foram os representantes legítimos do povo português que elaboraram essas leis, foi essa lei - imposta - que condicionou a forma como a representação nacional, a partir desse momento, era constituida. Para os fins em vista, a Carta Constitucional - tal como a Constituição de 1838, que era formalmente mais legítima -está morta e enterrada."
Retirei estes excertos da página da AMT que está linkada aqui no meu blog. Lá poderá ler o texto completo, no relativo à herança do trono, bem como da sucessão real e demais assuntos. Devo dizer que concordo com a maioria da doutrina.
Agradeço a sua pergunta e creio que lhe respondi(?).
Um abraço e saudações monárquicas.
Meu caro,
Agradeço a sua prontidão e digo que concordo inteiramente com a resposta.
Realmente, nem todas as formas de Monarquia são monárquicas, ou seja, servem os interesses de Portugal. Mas para a maioria dos "monárquicos" isso é irrelevante.
Ainda no dia do Regicídio falei com uma pessoa que até se mostrava adepta da Monarquia. Mas quando falou em «referendo» como forma de a restaurar, estragou tudo. E a juntar a isto, as companhias de SAR não me agradam nada. Cheiram todas a Liberalismo.
Mas, apesar deste interregno, temos que ter confiança em Deus Nosso Senhor, porque se Ele quiser, havemos de ter Portugal novamente.
Um abraço e viva El-Rei D. Miguel!
Caro Sr. Menestrel, as suas palavras são uma lufada de ar fresco nos ditames nacionalistas. Ainda é um corcunda, os antigos defensores do "Trono e do Altar", algo que os burgueses nunca conseguirão entender, pois para eles é tudo matemático, só o número importa. Para eles só a razão materialista conta, o resto, ou seja, a alma e a tradição da nação, não dão lucro, logo são descartáveis. Não compreendem, como nós, que há certas coisas imutáveis. Os homens vêm e vão, mas a nação fica.
A sua bandeira é a mesma que a minha.
Cumprimentos
b.reis
Caro Demokrata,
Escreve com dedos de ouro. Não interessam referendos - que se guardem para os bonapartistas e para os jacobinos.
O que interessa, é sim, escolher um Rei entre uma casta, um escol aristocrático, de acordo com as antigas Leis que regulam as Cortes.
É este o verdadeiro espírito miguelista; e não é andar atrás de sua alteza D. Duarte, que nada mais faz, senão falar em democracia pelos media, que encarna esse espírito.
Viva a Monarquia Orgânica e deixo-lhe também um abraço.
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Caro B. Reis,
Um dos comentadores deste espaço que me dá mais alento para continuar a escrever! É escusado dizer que concordo consigo, porque já o sabe. "Trono e Altar", com certeza as prioridades para o Portugal Integral e Católico. Absolutamente, Inolvidavelmente.
A burguesia, que se ocupou em ser revolucionária no século XIX e conservadora no século XX, apresenta-se agora, no século XXI, a querer deitar as unhas de fora e radicalizar ainda mais as posições. Uma parte fiel ao capitalismo neoliberal, outra contra isso, aqueloutra do rosas-das-histórias(veja-se como é um pote de enxovia!) lá vão cuspindo utilitarismo e transmutanto os valores da Nação, pervertendo-os! É das maiores ignomínias da nossa História!
Começo a antever que não resta alternativa a um homem íntegro, que não seja cavar uma trincheira algures em Lisboa e exigir que se torne à essência. Tenho a certeza que o Povo respiraria e sentira a defesa do ideal.
Agora um dos problemas é que muitos querem ficar sentados nos sofá a ver o futebol ou as novelas da tvi.
Fica o desabafo.
Melhores cumprimentos e saudações patrióticas!
Pior pode ser sempre, mas na verdade vivemos na lama. É o que dá termos um país governado pela maçonaria e regido por princípios e "morais" maçónicas.
Enquanto não fôr destruido este aparelho, este polvo diabólico que corrompe a sociedade toda desde a meninice nas escolas, não poderá haver verdadeira restauração nem monárquica, nem católica.
Abraço e viva el-Rei! Deus te guarde.
Um bom domingo e um abraço K'mrd.
Preciso lá de uma assinatura sffavor!
Caríssimos, saudações a todos.
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